O live-action de Death Note é uma boa adaptação do anime?

Death Note, aclamada série de anime e mangá sobre um estudante que encontra um caderno com o poder de matar qualquer pessoa cujo nome seja escrito nele, já teve várias adaptações ao longo dos anos. Neste artigo, vamos analisar o filme live action de Death Note, lançado em 2017 pela Netflix, para determinar se ele consegue capturar a essência da obra original.

Neste estudo, abordamos a trama, os personagens, a recepção e outras adaptações.

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Resumo da trama

Ambientado em Seattle, Washington, o filme segue Light Turner, um estudante do ensino médio que encontra o Death Note, um caderno sobrenatural que pode matar qualquer pessoa cujo nome seja escrito nele. Light conhece Ryuk, um Shinigami (deus da morte) que explica as regras do caderno e o incentiva a usá-lo. Movido por um desejo de justiça, vingança pela morte da mãe e um complexo de deus, Light começa a matar criminosos sob o codinome "Kira".

Suas ações chamam a atenção de L, um detetive internacional conhecido por sua inteligência e excentricidade, que tenta desmascarar Kira. Com a ajuda de sua namorada Mia Sutton, Light tenta escapar de L enquanto continua sua cruzada. O filme culmina em um confronto entre Light e L, com um final que se desvia significativamente do anime original, incluindo a morte de Mia após uma luta na roda-gigante de Seattle.

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Personagens principais

  • Light Turner / Kira (interpretado por Nat Wolff): Estudante que encontra o Death Note e o usa para matar criminosos. Diferente de Light Yagami no anime, essa versão é mais impulsiva, menos calculista e com motivações mais complexas.

  • L (interpretado por LaKeith Stanfield): Detetive internacional que tenta capturar Kira.

  • Mia Sutton (interpretada por Margaret Qualley): Namorada de Light e sua cúmplice. Parcialmente inspirada em Misa Amane do anime, mas com uma personalidade mais sombria e ambiciosa.

  • Ryuk (interpretado por Jason Liles na captura de movimentos e Willem Dafoe na voz): Shinigami que observa com diversão as ações de Light.

  • Detetive James Turner (interpretado por Shea Whigham): Pai de Light e policial que ajuda L na investigação.

Recepção do público

A recepção da crítica foi majoritariamente negativa. No Rotten Tomatoes, o filme tem aprovação de 36%, e no IMDb, uma nota de 4,5/10. As principais críticas recaem sobre:

Mudanças drásticas na trama e nos personagens

O filme se desvia fortemente do material original, alterando a personalidade de Light, a dinâmica entre ele e L, e o papel de Ryuk. Por exemplo, Light é mais emocionalmente instável e menos estrategista, enquanto L é mais impulsivo e menos analítico.

Ritmo acelerado

O filme tenta condensar uma história complexa em apenas 100 minutos, resultando em uma narrativa superficial e apressada. Muitos críticos sugerem que teria funcionado melhor como uma minissérie ou um longa com mais tempo para desenvolver a trama e os personagens.

Excesso de violência

Diferente do anime, que foca no suspense psicológico, o filme apresenta cenas de violência gráfica desnecessária. Um exemplo é a primeira morte causada por Light, que mostra a decapitação de um homem — bem mais brutal que os ataques cardíacos vistos no anime.

Simplificação excessiva

A trama e as motivações dos personagens foram excessivamente simplificadas, eliminando o debate moral e a complexidade que são centrais no anime. A batalha intelectual entre Light e L, um dos pilares da obra original, foi reduzida a encontros sem profundidade estratégica.

Apesar das críticas, alguns pontos foram elogiados, como a atuação de Willem Dafoe como Ryuk e a estética visual sombria e estilizada.

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Por que não agradou aos fãs?

O maior problema da adaptação da Netflix é não capturar a essência da batalha psicológica e intelectual entre Light e L, que é o verdadeiro atrativo do anime. Na obra original, ambos são mentes brilhantes que travam um duelo de estratégias e manipulações. O filme, no entanto, apresenta confrontos rasos, com um Light impulsivo e um L desequilibrado.

Outro ponto é a mudança nas regras do Death Note, como a possibilidade de “cancelar” uma morte ao destruir a página com o nome da vítima. Essa alteração, embora pareça pequena, afeta diretamente a tensão narrativa ao remover o caráter fatal e irreversível do caderno.

Além disso, o personagem Watari, assistente de L, é usado por Light para descobrir o nome verdadeiro do detetive — algo que, no anime, exigia mais engenhosidade e tensão.

O desafio de adaptar um anime

A adaptação da Netflix evidencia as dificuldades de traduzir o estilo visual e o ritmo de um anime para o live action. Animes têm liberdade criativa e conseguem expressar emoções e pensamentos de forma única, o que se perde ao tentar reproduzir isso com atores reais.

No caso de Death Note, o filme não conseguiu replicar o suspense psicológico, preferindo uma abordagem com mais ação e violência. A condensação da trama complexa em pouco tempo também levou à perda de subtramas importantes.

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Comparação com os filmes japoneses de 2006

Vale lembrar que a adaptação da Netflix não foi a primeira versão live action de Death Note. Em 2006, foram lançados dois filmes japoneses dirigidos por Shusuke Kaneko, mais fiéis ao mangá original e melhor recebidos por público e crítica. O destaque vai para a interpretação de Kenichi Matsuyama como L.

Esses filmes mantêm o enredo no Japão e conservam a complexidade dos personagens e da trama. Mesmo com mudanças, elas são percebidas como mais naturais e respeitosas com a obra original.

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Outras adaptações

Além das produções mencionadas, Death Note também ganhou uma série live action japonesa em 2015, dirigida por Ryūichi Inomata e Ryō Nishimura. Com Masataka Kubota como Light Yagami e Kento Yamazaki como L, a série também teve liberdades criativas, mas foi elogiada por manter o clima sombrio e o espírito do mangá.

Conclusão

Em resumo, o live action de Death Note lançado pela Netflix em 2017 não pode ser considerado uma boa adaptação do anime. Apesar de manter a premissa básica, os drásticos desvios na trama, nos personagens e no tom geral afastam o filme da obra original.

A produção falha em reproduzir a batalha intelectual entre Light e L, simplifica os personagens e os dilemas morais, e insere elementos que não combinam com o universo do anime.