Lp Vinil - Florence + The Machine - Dance Fever

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O que você precisa saber sobre este produto

  • Género: alternative.
  • Quantidade de canções: 14.
  • Origem do álbum: Europa.
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Características do produto

Características principais

Nome do álbum
Dance Fever
Companhia produtora
Polydor
Formato
Físico
Tipo de álbum
Vinil
Incluí faixas adicionais
Não
Ano de lançamento
2022

Outros

Quantidade de canções
14
Origem
Europa
Gênero
Alternative

Descrição

Às vezes, você ouve um verso e pensa: “Só essa pessoa poderia ter escrito isso”. Acontece, inclusive, com todas as melhores popstars - e parece que, no quinto álbum de estúdio, Florence Welch finalmente encontrou a sua estrofe assinatura. Ele aparece em “King”, primeira canção do Dance Fever: “Eu preciso da minha coroa dourada de pesar/ Da minha espada sangrenta para brandir/ Que os meus corredores vazios ecoem/ A minha grandiosa automitologia”.

Essas quatro linhas representam bem o que fez a inglesa, líder do Florence + The Machine, capturar a fascinação do público desde o finalzinho dos anos 2000, principalmente a forma como ela expressa aspirações comuns em uma escala quase mitológica. Afinal, não é só a potência absurda dos vocais de Welch que dita que eles sempre sejam passados por um filtro de ecos que faça parecer que o disco foi gravado dentro de uma catedral, ao invés de um estúdio. Essa é uma escolha narrativa, também. Para ela, cada álbum é uma celebração sacra das imperfeições humanas.

É curioso falar isso justamente à ocasião do lançamento do Dance Fever, no entanto, porque o disco é também o mais “pé no chão”, mais orgânico do Florence + The Machine desde Lungs, que saiu em 2009 e catapultou a banda ao estrelato com épicos rockeiros como “Kiss With a Fist” e “Dog Days Are Over”. E não sou só eu que estou dizendo, inclusive. A própria Welch contou ao The New York Times que enxerga o disco como “uma resposta às últimas coisas que tem feito”: “Eu estava de saco cheio das minhas m*rdas de sempre. Do meu piano pesado. Eu estava com saudades de guitarras”.


As guitarras e violões estão, de fato, por todo lado no Dance Fever. Eles dão graciosidade à progressão frenética de “Free”, que também é levada por uma linha de baixo sintetizada que lembra um pouco o pique de “Dog Days”; e aparecem em tom singelo, ameaçando um passeio pelo country, nas excelentes “Girls Against God” e “The Bomb”, que resgatam algo da Florence Welch poetisa do minimalismo, à plena vista no Lungs, mas sufocada em favor da grandiosidade dos discos subsequentes.

Seria injusto definir o álbum como um “retorno à forma”, no entanto, por alguns motivos: primeiro, o Florence + The Machine nunca esteve fora de forma; segundo, o Florence + The Machine nunca está confortável em apenas fazer o esperado. O Dance Fever não é um repeteco do Lungs, mas uma obra temperamental e única, moldada pela colaboração de Welch com dois produtores e escritores com quem nunca havia trabalhado antes: Jack Antonoff, força importante em discografias pop recentes como as de Lana Del Rey, Lorde e Taylor Swift; e Dave Bayley, líder da banda Glass Animals.

Os dois são artistas de instintos opostos, e isso é audível no Dance Fever. As canções de Welch com Antonoff, todas posicionadas no começo do disco, herdam a abordagem quase minimalista do produtor. Nelas, a cantora desfila suas dúvidas existenciais por cima de baterias, guitarras e sintetizadores graves, nunca intrusivos na melodia. É um exercício curioso de coibição, ouvir uma artista sempre tão dramática se multiplicando em duas ou três vozes ao invés de se jogando em corais apoteóticos e batuques tribais.


A conclusão, claro, é que Welch é tão boa quando te permite ouvir cada detalhe da música quanto é quando sobrecarrega as emoções do ouvinte com paredes de som e fúria. É apropriada a diferenciação de intensidade, também, porque essa primeira fase do Dance Fever traz a artista em uma crise de identidade enervante, expressada principalmente na forma como fala de seu ofício como cantora e sua condição como mulher. “Você diz que o rock n’ roll morreu/ Mas será que isso é só porque ele não ressuscitou/ À sua imagem e semelhança?”, provoca ela em “Choreomania”.

Há uma contradição intensa entre o quanto Welch precisa da e anseia pela catarse artística e o ressentimento que ela expressa quando percebe essa necessidade, esse desejo. E é justamente quando essa tensão está atingindo o insuportável que Antonoff sai de cena para dar lugar a Bayley, e o Dance Fever se transfigura de uma meditação taciturna para uma celebração raivosa, barulhenta, um grito segurado por tempo demais.

Mais explícita sobre a influência dos anos de isolamento da pandemia em sua visão de arte e mundo, ela canta frustrações coletivas em canções como “My Love”. Trazendo de volta a sonoridade Motown (gravadora que moldou o soul americano dos anos 60 e 70), que também brilhava no Lungs, Welch declama por cima de teclados e sintetizadores que ficou “sem saber onde colocar o seu amor” diante de um apocalipse “quieto e lento” - e ainda finaliza com um sussurrado “todos os meus amigos estão ficando doentes”. Angustiante, sim, mas também catártico como só ela poderia fazer.


Nessa parte do álbum, em épicos como “Cassandra” e “Daffodil”, reaparece a Florence declamatória, das canções que soam como evocações pagãs e mantras de feitiçaria. Ela volta a fazer, de certa forma, aquela mesma “automitologia” contra a qual veio lutando no restante do álbum. Curiosamente, isso não faz o Dance Fever soar hipócrita ou confuso sobre si mesmo, mas o faz soar mais honesto.

No fim das contas, o álbum nos lembra que um dos prazeres da arte é assistir a um artista em constante busca por si mesmo. Como o próprio título do disco indica, não há porque lutar contra o ritmo, contra a explosão, contra a nossa necessidade de expressão. Precisamos todos “existir na face do sofrimento e da morte/ e mesmo assim continuar cantando” (verso de “Free”). Essa última parte é um pouco mais fácil com o Florence + The Machine no mundo.