A Hora De Clarice Lispector, De Cixous, Hélène. Editora Nos Editora, Capa Mole Em Português

Descrição

Mais de dez anos separam o momento de escrita de "A Hora de Clarice Lispector" da primeira leitura que Hélène Cixous fez da autora brasileira. Outros 33 anos separam a publicação deste texto, que veio à luz em 1989, pela Éditions des Femmes-Antoinette Fouque, da chegada de sua versão integral ao Brasil. Talvez porque este seja um texto feito de futuro, que talvez seja o nosso hoje, ou um longínquo amanhã.

O "ensaio", que pode ser lido como um longo poema em prosa escrito em fluxo de consciência, talvez não encontrasse lugar em nenhuma prateleira brasileira de três décadas atrás. E a ideia de uma escrita que mistura a pessoa que fala ao objeto de que se fala talvez soasse ousada demais para o rigor da academia e avançada para quem deseja ler um conteúdo que corresponda exatamente ao seu rótulo.

Pois é no esfumaçar das fronteiras de gênero que se constitui a escrita de Hélène Cixous sobre Clarice. Aquilo que ela própria chama de uma "meditação sobre a última hora", referindo-se à última hora de Clarice Lispector (A hora da estrela) é daqueles textos que nos cegam num primeiro momento, pela extrema lucidez com que toca na escrita clariceana, ela mesma clarividente.

Se a ela foi exigida coragem para escrever, será também necessário ter coragem para ler, de corpo aberto, e sem a pretensão de querer entender, arriscando-se, como fez Hélène em sua íntima leitura: "Empurrar-me além de meus limites, forçar-me a ir onde não dá pé, sob o risco de me abismar." e suportar "a mordida dos seus dentes na garganta do meu coração". Às leitoras e aos leitores, fica o desafio: "... que Clarice também lhes chame. Que ela lhes diga o que quer dizer.