Livro Meus Anos De Intimidade Com Dostoiévski, De Apollinária Prokofievna Suslova (), Luís Avelima (). Editora Kotter Editorial, Capa Mole, Edição 1 Em Português, 2022

Descrição

COMO UM FURACÃO

Meus anos de intimidade com Dostoiévski revela, por meio dos relatos de Apollinária Prokofievna Suslova, amante de Fiodor Dostoiévski, aspectos até então desconhecidos da vida sentimental do renomado escritor russo.

Suslova serviu de modelo para as principais personagens femininas das obras de Dostoiévski. Encontram-se traços dela, tanto físicos quanto de personalidade, em figuras como Nastácia Filippovna, de O idiota, e em Pauline, de O jogador.

O legado literário de Dostoiévski tem sido por si só um pilar para alimentar os espíritos mais refinados, relegando a um segundo plano o interesse sobre as nuances e traços da personalidade do escritor que Sigmund Freud chamou de criador da "maior obra da história", referindo-se ao romance Os irmãos Karamazov. No entanto, a edição de Meus anos de intimidade com Dostoiévski justifica-se, pois Apollinária Prokofievna Suslova não só causou um impacto profundo na vida de Dostoiévski e, por extensão, em sua literatura, mas também nos deixou, em páginas vibrantes e cativantes, um retrato valioso do universo de ideias e costumes da sociedade russa sob o regime czarista.

Suslova, filha mais velha de um ex-servo do conde Cheremetievo que prosperou após obter a liberdade, teve acesso a uma educação de qualidade. Embora aspirasse ser médica, uma carreira inconcebível na época para mulheres, acabou se integrando ao círculo de jovens revolucionários, ávidos por liberdade. O tradutor Luís Avelima nos conta que Suslova era altiva, rejeitava brincadeiras, frivolidade e desrespeito, desprezava sua própria beleza, considerando-a supérflua, e não tinha vaidade para se adornar. Apesar das restrições da época, frequentava a Universidade de São Petersburgo, envolvia-se com os alunos, visitava-os em suas residências, impedia-os de trabalhar, incitava-os à revolta, à assinatura de petições, à participação em manifestações políticas, a marchar em passeatas com uma bandeira vermelha, a cantar a "Marselhesa", a desafiar os cossacos, a provocar os guardas, resultando em detenções e celebrações triunfantes por seus companheiros após ser liberada. Essa foi a mulher que levou o homem cristão, casado e escritor incansável a cometer desatinos.

(Nicodemos Sena)